PARA BRINCAR NESSA SALA QUANTO MAIS SÉRIO MELHOR: A importância da roda.

É verdadeiramente fantástico o número de símbolos e significados que envolvem o universo dos cocos de roda, sendo a roda um dos mais fortes e presentes nas brincadeiras, é verdade também que não há nada mais repetitivo do que falar sobre a importância da roda para que o brinquedo aconteça, apesar disso, é absolutamente necessário! Vez que, apesar de ser algo tão falado, as pessoas costumam desrespeitar flagrantemente esse elemento fundamental.

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Na imagem, o grupo Samba de Coco do Mestre Zé Zuca.
Foto: Cíntia Viana.

A importância da roda é tão evidente e óbvia que todos os grupos com quem tive e mantenho contato dentro do estado da Paraíba até o momento brincam em formato circular, além disso, tudo (ou quase tudo) acontece na ou para a roda, vejamos, os tocadores irão tocar para que os dançadores e dançadeiras que estão na roda dancem, vale salientar que além de estarem dispostos em círculo, este também gira em sentido anti-horário incansavelmente durante todo o tempo em que os instrumentos musicais tocam e os cantadores e cantadoras entoam as suas vozes, alguns grupos, inclusive, tocam seus instrumentos dentro dela, Mestres como Zé Cutia (de jacumã) e Mestra Tina (Bairro dos Novais) ensinam que a ciranda deve ser batida dentro da roda. É nela também que, em muitos grupos, acontecem os jogos de compra e os debates entre as pessoas que estão dançando, é dela que os próximos a dançar serão escolhidos por quem está dentro sapateando. Vale salientar que a roda é o principal espaço de aprendizagem dos mais novos, pois é nela que as crianças poderão observar os mais velhos demonstrando seus saberes.

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José Alves dos Santos, o mestre Zé Cutia, zabumbeiro do coco de roda da praia de Jacumã. Foto: Cíntia Viana.

Veja aqui os tocadores do coco de roda e ciranda de Caiana dos Crioulos (Alagoa Grande) batendo o coco dentro da roda.

Veja aqui o Samba de Coco do Mestre Zé Zuca (Sítio Sulapa – Queimadas) dançando em roda.

Veja aqui o Coco de Roda e Ciranda do Mestre Benedito (Monte Castelo – Cabedelo) dançando em roda.

Acontece que em muitas das festas tradicionais ou apresentações, as pessoas que são externas às comunidades ou que são alheias aos modos de fazer dos grupos não se preocupam com a manutenção da roda, entrando várias pessoas de uma vez só, desfigurando o formato da brincadeira e atrapalhando o andamento da festividade. Nesse contexto, a Mestra Ana Rodrigues (do Ipiranga), em documentário publicado no Youtube e dirigido por Janaina Quetzal, argumenta que as dançadeiras de sua comunidade costumam ir embora, pois não conseguem espaço para dançar dentro do pavilhão do coco, revelando o quão prejudicial é este tipo de conduta para a manutenção e transmissão dos saberes e fazeres tradicionais.

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Veja aqui o documentário Coco de Roda Novo Quilombo, mencionado no texto.

Veja aqui vídeo da festa do coco no quilombo Ipiranga com a roda MANTIDA.

Veja aqui vídeo da festa do coco no quilombo Ipiranga com a roda DESFEITA.

O Coco de Roda Novo Quilombo (quilombos Gurugi e Ipiranga), diante de más condutas, costuma cantar uma cantiga com os seguintes versos: bote barro na parede/ quero ver cair o pó/ para brincar nessa sala/ quanto mais sério melhor, coco antigo, dos tempos das tapagens das casas na comunidade, momentos estes que segundo me contou o mestre Janduí (do Ipiranga), as salas das casas ficavam lotadas, porém ninguém desrespeitava a roda, valendo salientar que as salas eram pequenas e a dança de pareia, tanto na roda como dentro dela, pisadas miúdas, homens de roupa social, com as barras das calças amarradas com cipó e as mulheres de vestidos e saias bem rodadas, todos descalços! É importante que ao chegar a uma comunidade tradicional ou em uma apresentação de algum grupo tradicional, possamos primeiramente observar os modos adotados por aquelas pessoas, para que só então um pouco familiarizados possamos embarcar na brincadeira, sempre respeitando o estilo, as falanges, os sotaques da comunidade ou grupo visitado, lembrando sempre de respeitar a roda!

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Texto: Arthur Costa.

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