Recentemente trouxemos nesta coluna um pouco da presença do cavalo marinho na região metropolitana de João Pessoa e dos fazeres e saberes dos mestres e mestras que fizeram e seguem fazendo história na manutenção dessa brincadeira, hoje, resolvemos trazer uma breve entrevista com uma jovem integrante do Cavalo Marinho Infantil Sementes do Mestre João do Boi (Bairro dos Novais), Jéssica Silva dos Santos, 17 anos, brincante há 10 anos, para contar um pouquinho da sua experiência e falar sobre esse folguedo tão belo e representativo da cultura paraibana, Jéssica integra ainda a Ciranda do Sol e a Capoeira Angola Comunidade.
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O Cavalo Marinho do Bairro dos Novais foi fundado há 53 anos pelo saudoso mestre João do Boi, antes de falecer, o mestre passou o bastão para Jocilene Cunha da Silva, a mestra Tina, que segue ensinando e mantendo a tradição através das apresentações e ensaios que acontecem semanalmente das 19h às 21h na Rua da Alegria, nº 165, no Bairro dos Novais (no momento os ensaios estão suspensos em razão da pandemia do Covid-19). Em suas apresentações, o grupo apresenta uma série de danças e figuras, como a contradança, o engenho, o Mateus, o Birico, a Catirina, o Empata Samba, o Mané Chorão, a Velha Dindinha, o Matuto da Goma e o Gigante. Vamos à entrevista?
Arthur: Jéssica, como você começou a brincar o cavalo marinho?
Jéssica: Comecei a brincar cavalo marinho através da minha tia (mestra Tina), que tipo assim, eu sempre via ela indo para as apresentações do cavalo marinho, da capoeira, ciranda, e sempre tive vontade de ir, isso eu com seis anos de idade sempre tive vontade de participar do grupo, mas só que como eu era muito pequena minha tia dizia que não podia me levar, ela sempre dizia “não, quando você tiver maiorzinha eu te levo pra participar”, mas desde pequena eu sempre tive essa paixão pela capoeira, ciranda e cavalo marinho, aí quando eu fiz sete anos de idade foi que ela me levou para os ensaios do cavalo marinho, daí eu fui vendo, gostando e foi quando eu comecei a brincar.
Arthur: Qual é a sua função na brincadeira?
Jéssica: A minha função na brincadeira é mestrar os cordões, às vezes também faço alguns personagens, tipo Mané Chorão, Empata Samba, às vezes também eu brinco como contramestre, primeiro galante.
Arthur: Qual é o personagem que você mais gosta de fazer? Poderia falar um pouco mais sobre ele? Qual o personagem que você ainda não sabe fazer e que tem interesse de aprender?
Jéssica: Mané Chorão! É um personagem trágico e cômico da brincadeira, ele é uma pessoa estranha que chora, chora muito pelas perdas da vida e tenta transformar sua alegria em tristeza quando entra pra se apresentar pro público com seus versos. Tipo assim, Tem muitos personagens que a gente não bota pra se apresentar porque a gente não tem feito, mas o personagem que eu queria fazer era o Mateus, entendeu?! Porque sei lá, eu acho bonita a apresentação dele, aí eu sempre tive vontade de fazer ele.
Arthur: Você já sofreu algum tipo de preconceito por fazer cultura popular? E por ser mulher brincante?
Jéssica: Sim, já sofri com os próprios colegas de escola, mas eu não deixaria de fazer algo que me faz bem.
Arthur: Qual a parte mais importante da brincadeira pra você?
Jéssica: A parte mais importante para mim são duas, a chamada dos mascarados, né?! Que ali eles dão início à brincadeira, e também a louvação, porque para mim ela tem um sentido muito grande, entendeu?! Porque atrás da louvação é onde eu pego as energias positivas e sinto uma presença muito forte do meu mestre (mestre João do Boi), e isso é o que me dá mais energia, mesmo sabendo que ele não está ali presente em corpo, mas sim em espírito.
Arthur: Você poderia falar um pouco sobre os personagens do Matuto da Goma e do Gigante?
Jéssica: O que eu sei é que o Matuto da Goma é um personagem que se apresenta com o rosto cheio que goma e com um saco de goma nas costas, ele também vende goma e sua apresentação é dançando. Ele sai oferecendo ao público, e de vez em quando ele sai brincando com o público melando o rosto do público de goma. O Gigante é um bicho estrangeiro que tem a cabeça maior que o corpo, por isso o Mateus tem medo dele, por causa do gigante a alma do boi se perdeu, nisso já diz a própria música dele: Gigante, que bicho é esse que na roda apareceu?/foi por causa desse bicho que a alma do boi se perdeu!
Arthur: Para finalizar, como você se sente integrando um dos cavalos marinhos mais antigos do Brasil?
Jéssica: Eu me sinto uma pessoa muito feliz e privilegiada por isso, pois desde pequena sempre foi meu sonho tá integrando o grupo, então hoje é maior orgulho e felicidade por tudo que já passei nele e que nós não deixamos nosso legado morrer.
Agradecemos imensamente à Jéssica pela disponibilidade e parceria, desejamos muita força para seguir na luta pela cultura popular e pelas brincadeiras tradicionais da Paraíba, agradecemos também à mestra Tina pela ponte feita!
Viva a cultura popular!
Texto e transcrição da conversa: Arthur Costa.
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