Terra Fértil

O texto de hoje é antes de tudo um desabafo, mas também uma reflexão acerca de uma pergunta que não quer calar, pior, grita ensurdecedoramente ao meu ouvido: pra onde foi o interesse na Paraíba?

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Nos poucos, porém, intensos anos de minhas vivências dentro da cultura popular paraibana já deu pra perceber que o estado é esquecido, negligenciado, ignorado e desvalorizado pelo governo, mas também pela sociedade civil como um todo. Quando falamos do quesito cultura tradicional, parece até que aqui não tem nada, ledo engano, existe uma viva e rica variedade de manifestações culturais tradicionais bem debaixo do nariz daqueles que fazem questão de empiná-lo.

Há aqueles que alegam amar a cultura paraibana, mas em nada colaboram com nossas tradições, preferem buscar em outros lugares o que já tem aqui, ou até o que não tem também, e tudo bem, o problema em si é limitar-se ao outro e esquecer-se de olhar para dentro, é não procurar saber quem são os mestres e as mestras, as comunidades brincantes, é não procurar aprender as simbologias, as expressões, as falanges (como diz a querida mestra Tina) dos brinquedos aqui praticados, enquanto isso parte da história vai se apagando, ou vão apagando, ou tentam apagar, muito embora às vezes consigam, muitas vezes só tentam apagar, porque ainda há muita caneta disposta a escrever no caderno da história da cultura popular desse estado.

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Não se busca aqui criticar o trabalho de ninguém, o que se procura é propor uma reflexão acerca do que aí está, é questionar o porquê de a grama do vizinho ser sempre mais verde (nada mais clichê, né?! Pois é, mas também não há nada mais atual!), o que se busca é questionar o motivo de a Paraíba estar sempre em segundo plano, nos estudos, nas pesquisas, nos destinos, é questionar o porquê de quase ninguém procurar conhecer as brincadeiras do carnaval daqui (as tribos, os ursos, as escolas de samba, os bois de carnaval), há um movimento absurdo em torno dessas manifestações na periferia de João Pessoa, Rio Tinto e Campina Grande por exemplo.

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Proponho aqui que paremos e pensemos um pouco o que estamos fazendo com o nosso estado, e também o que não estamos fazendo com ele, enquanto damos visibilidade exclusivamente pra uns, os nossos vão sendo invisibilizados, apagados, como se não tivéssemos memórias para zelar.

Aproveitamos o ensejo pra destacar a importância de grupos como o Coletivo Jaraguá e a Cia Boca de Cena que vem há anos na luta pela preservação, registro e manutenção das formas de expressão aqui existentes, o primeiro atuando junto a uma série de grupos e o segundo estando firme há 24 anos na militância pela brincadeira do babau! Há ainda excelentes exemplos que merecem ser mais conhecidos, tais como a Escola Viva Olho do Tempo, dirigida pela incrível Mestra Doci, e o projeto do Museu do Patrimônio Vivo, atuante na grande João Pessoa.

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Aqui nós temos rabequeiros, pandeiristas, construtores de bombos artesanais, mestres de coco, ciranda, emboladores, violeiros, mestres de reisados, bois de reis e cavalos marinhos, e muito mais coisa que pra saber fica de missão a quem se interessar pesquisar!

A Paraíba não é terra de ninguém! Aqui tem gente!

Já passou da hora de percebermos que a grama do nosso jardim é bem verdinha, e que o solo onde ela cresce é absurdamente fértil!

Texto: Arthur Costa.

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