Por: Polyanni Dallara
O coco de roda e a ciranda me ensinaram um outro jeito de aprender, aprender vivenciando e brincando. Quanto mais se brinca – mais se aprende. A mestra Ana do Coco Novo Quilombo (Conde/PB) nos falou que o momento da festa de coco é a melhor ocasião para se aprender os fundamentos da brincadeira. Já a mestra Tina da Ciranda Sol (João Pessoa/PB) acredita que as brincadeiras de roda fazem parte do nosso cotidiano desde nossa infância e é na roda que aprendemos, somos felizes e encontramos os espíritos de luz.
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Para além de aprender os cocos, as cirandas e a tocar os instrumentos, bombo, ganzá e caixa (dependendo da comunidade esses instrumentos podem variar); o que mais aprendi com minhas mestras e mestres de coco foi o respeito.
Entende-se brincandeira por divertimento, jogo, não zombaria. A brincadeira não é zoação. É necessário que estejamos sensíveis para a experiência de brincar no terreiro alheio. Uma festa numa comunidade tradicional não é uma balada da Universidade.
As comunidades possuem uma dinâmica própria. Além disso, é muito importante a gente observar o que está acontecendo na brincadeira ao chegarmos nas comunidades tradicionais, ver como estão sendo tocado os instrumentos, como se dança, como se canta. Respeitar a brincadeira, respeitar a roda!
Há, na Paraíba, uma diversidade muito grande de cantos, toques, danças, crenças e rituais. Também, é verdade que a nossa cultura popular já foi muito pesquisada academicamente, mas ainda caminha para o reconhecimento merecido.
Apesar de tanta pesquisa, os registros são escassos e o acesso a eles quase impossível, por que será? Nós brincantes sabemos que muitos manifestações culturais e comunidades tradicionais foram pesquisadas, mas até hoje existe a prática anti-ética e colonizadora de pesquisadores que fizeram sua carreira em cima das comunidades e não devolveram o material fruto de suas pesquisas.
Tais eventos nos colocam diante de alguns valores como o respeito, a ética, honestidade, mais do que isso, faz-nos refletir sobre as práticas de pesquisa que endossam uma má conduta científica. É inegável que isso de certo modo contribuiu para a invisibilidade da nossa cultura. Os pesquisadores vêm, saem “enriquecidos espiritualmente” com a beleza e profundidade da nossa cultura (como já li em alguns artigos sobre o coco de roda paraibano), mas as comunidades continuam sendo garimpadas sem nenhum cuidado e contrapartida, muitas não chegaram nem a ver o rastro do material de pesquisa por elas concedido e que não existiria se não fosse a generosidade dessas comunidades.
A pesquisa acadêmica pode ser feita de um modo benéfico e contribuir para a manutenção da memória desses folguedos e comunidades, mas para isso acontecer temos que reagir e colocar em pauta o caráter egóico de alguns trabalhos.
Estamos numa pandemia e as nossas comunidades não estão podendo realizar suas brincadeiras, apresentações e oficinas. Os nossos mestres e mestras estão sendo severamente prejudicados nesse isolamento social. Todo material de pesquisa ou outros tipos são importantes para que eles possam se inscrever em editais e conseguir passar por esse momento delicado. Se você tiver algum material e registro (áudio, vídeo, foto etc) da cultura popular paraibana, não há melhor momento para devolver!
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