Os Abutres – Carnaval do Passado.

O texto de hoje traz um pouco da memória do carnaval de João Pessoa, a partir dos relatos do senhor José Roberto, ou apenas “Andrade”, tocador da antiga Troça de Carnaval Os Abutres, que nos passou um pouco da história desse grupo e de suas particularidades, visto que já na década de 1970, a batucada fazia adaptações de músicas com grande repercussão, além de manter um repertório de antigos frevos.

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A Troça de Carnaval Os Abutres foi fundada em 1974 na cidade de João Pessoa, permanecendo ativa até 1985, realizando algumas apresentações na década de 1990. A agremiação foi fundada por profissionais liberais e trabalhadores em geral, tendo como um dos seus grandes incentivadores e fundadores o senhor Carlos Monteiro, que havia atuado na troça Os Carcarás, do bairro Cordão Encarnado. Ao deixar esse grupo, ele se juntou com alguns amigos e fundou Os Abutres, para soar como uma espécie de rivalidade entre as duas batucadas.

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O grupo iniciou os ensaios a partir da compra de um repique e um tarol na antiga loja Mesbla, adquirido por Marques, tocador e fundador do grupo, além de um surdo mor construído pelos dois e por Andrade. Em seu auge, o grupo chegou a ter 16 componentes, além dos familiares que acompanhavam os tocadores e tocadoras, que tocavam os seguintes instrumentos: três trompetes, sax alto, dois sax tenor, além de caixa, surdo de resposta, surdo mor, carinhosa, repique, reco-reco, afoxé, entre vários outros.

Foto: Acervo Pessoal de José Roberto. Década de 1970.

A troça fazia apresentações em clubes, concursos de bairros, como Jaguaribe, Torre, Roger e no desfiles de batucadas na Avenida Duque de Caxias, além de realizar os desfiles de ruas. Os ritmos praticados pela agremiação eram o frevo e o samba, fazendo adaptações de músicas de outros ritmos, como forró. O canto em coral era puxado por Seu Andrade, que faz a ressalva, qualquer um podia cantar, desde que não saísse do ritmo.

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A Batucada começou tocando nos bairros da cidade em cima de uma caminhonete, o que despertou o interesse dos moradores, que passaram a fazer convites para que a troça realizasse apresentações em suas casas. O instrumento que iniciava o toque era o surdo mor. “fuscão preto”, músicas da Xuxa e “coisinha do pai”, por exemplo, foram algumas das adaptações com arranjos do maestro Geraldo que a batucada tocava e cantava em suas apresentações.

Foto: Acervo Pessoal de José Roberto. Década de 1970.
O entrevistado aparece à esquerda.

Os relatos orais trazem informações de um carnaval do passado e que atualmente não acontece mais ou assume outras características. No caso das troças, ainda são muito convidadas para tocar em grandes e pequenos blocos da capital, mas dificilmente como sendo as grandes atrações dos eventos, sendo colocadas normalmente em segundo plano, sobretudo nas grandes organizações, que muitas vezes nem divulgam os nomes das orquestras, o que expõe um problema, a desvalorização dos grupos mais tradicionais da cidade. Um dos problemas apontados por seu Andrade para o fim dos Abutres foi a chegada do Axé, ritmo baiano que tomou os carnavais da capital paraibana durante a década de 1990 e seguinte, ou seja, enquanto a música do “momento” for mais valorizada ou considerada que os fazeres e saberes tradicionais, a cultura popular sofrerá invizibilização e preconceito.

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Texto: Arthur Costa.

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