Toda produção cultural baseada em fatos reais conta com a (des) vantagem do Spoiler. Contar uma história que o público acompanhou in loco ou que teve grande repercussão midiática caracteriza um grande desafio para todos os envolvidos no projeto. No entanto, com uma boa criação artística e execução de qualidade, a possibilidade de comparar ou compreender bem o que aconteceu pode pontuar a favor do sucesso.
A série americana “American Crime Story: The People vs OJ Simpson”, desenvolvida pelos roteiristas Scott Alexander e Larry Karaszewski, renomados por outros roteiros biográficos como Ed Wood, The People vs. Larry Flynt e Auto Focus, foi dirigida por Ryan Murphy e não poderia ser de outra forma já que trata-se de um spin-off de American Horror Story, também produzida por Murphy em parceria com Brad Falchuk.
O enredo da série limitada em 10 capítulos remonta a história do longo julgamento do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson (que durou de setembro de 94 a outubro de 95), acusado de assassinar a ex-mulher, Nicole Brown, e seu amigo Ronald Goldman nos anos 90.
Ponto importante para qualquer relato, a contextualização é responsável por trazer o telespectador ao momento em que tudo está acontecendo. No caso de “American Crime Story: The People vs OJ Simpson”, esse quesito não foi menos que magistral. Começando com a trilha sonora que trouxe músicas como “If I Ever Lose My Faith In You” do cantor Sting (1993) e “Kiss from a Rose” do cantor Seal (1994), sucessos de uma década, até a escolha do elenco que buscou contemplar nomes que ganharam visibilidade nos anos 90 como David Schwimmer, Selma Blair e o ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante de 1996, também interpretando um jogador de futebol americano no filme Jerry Maguire, Cuba Golding Jr.
Além destes, o elenco conta com John Travolta, também produtor da série, Courtney B. Vance e Sarah Paulson, vencedores do Emmy e Globo de Ouro de melhor ator e atriz principal em uma série limitada ou filme, bem como Sterling K. Brown, também ganhador do Emmy de melhor ator coadjuvante na mesma categoria. A atuação não foi o único aspecto premiado da obra que ganhou ao todo 9 das suas 22 indicações ao Emmy 2016.
O mérito da série vai muito além de sua notória qualidade técnica e profissional. Tratando o caso como inédito, Murphy consegue envolver conhecedores ou não do crime em sua representação abordando temas pertinentes e relevantes que vão além da resposta quanto à culpabilidade de O.J. Simpson.
O racismo, o preconceito e a parcialidade do sistema de segurança policial dos Estados Unidos foram temas prioritários do enredo, mas abriram espaço para a reflexão sobre o papel da mulher na sociedade moderna, a maternidade e exigência de enquadramento em padrões de beleza que quando não alcançados fomentam o bullying e a depressão, além de enfatizar o papel da própria mídia em todo processo, a imprensa marrom, a espetacularização do crime e os mecanismos de manipulação da opinião pública, inclusive os artifícios publicitários e de mercantilização das informações.
A obra foi idealizada em forma de antologia, assim como American Horror Story que em cada temporada conta um caso distinto, e já possui duas novas temporadas confirmadas e previstas para este ano. A segunda se debruçará sobre os acontecimentos provenientes do furacão Katrina, que atingiu os EUA em 2005, e a terceira será sobre o assassinato do estilista Gianni Versace, em 1997.
Seguindo a métrica de roteiros adaptados que tomou os cinemas nos últimos anos, na série televisiva, cada temporada toma por base uma obra literária baseada no acontecimento em questão como no caso do livro “The Run of His Life: The People v. O. J. Simpson” de Jeffrey Toobin, base para a primeira temporada.
Fundamentada na pesquisa aprofundada e dotada de muita qualidade artística, “American Crime Story: The People vs OJ Simpson” é uma ótima opção de entretenimento disponível na Netflix.
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