Forúm Cultural do Coco de Roda, Ciranda e Mazrca da PB lança carta aberta aos governantes nas redes sociais

Os Mestres e Mestras da cultura popular se unem para reividicam a valorização e preservação do Coco de Roda, Ciranda e Mazurca do estado da Paraíba.

Nesta quarta-feira (17), o Forúm Cultural do Coco de Roda, Ciranda e Mazurca da Paraíba lançou um carta aberta aos governantes e a sociedade civil requerendo a valorização e preservação das manifestações populares Coco de Roda, Ciranda e Mazurca presentes no estado da Paraíba.

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Assinada por 25 grupos de cultura popular, os mesmos solicitam ao um aporte regular por meio de políticas públicas pelos poderes públicos e pela sociedade civil. Leiam o teor da carta:

CARTA ABERTA ÀS PREFEITURAS, GOVERNO DO ESTADO E A SOCIEDADE CIVIL PELA PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO COCO DE RODA, CIRANDA E MAZURCA NA PARAÍBA

17 de Junho de 2020

Paraibanos e paraibanas,

Nós, do Fórum Cultural do Coco de Roda, Ciranda e Mazurca da Paraíba, nos manifestamos publicamente sobre a atual organização dos grupos ligados a estas manifestações tradicionais paraibanas e viemos reivindicar apoio do Poder Público e da sociedade em geral através de políticas públicas que nos dêem suporte contínuo e regular.

O coco de roda e a ciranda estão entre as principais brincadeiras populares do nosso estado. Essas tradições fazem parte da identidade cultural paraibana. Somos nós – comunidades – que resistimos por mais de 200 anos, carregando a tradição dos povos originários e dos povos de origem africana: quilombolas, indígenas, pescadores, agricultores, comerciantes e pessoas, em geral marginalizadas, que lutaram e seguem lutando diariamente para manter viva a memória de parte fundamental da história paraibana.

O Grupo de Estudos Coco de Roda Acauã, recentemente, mapeou cerca de 40 mestres, mestras e grupos ativos e inativos em nosso território. Entretanto, acreditamos na existência de muitos outros. A Missão de Pesquisas Folclóricas, realizada em 1938, registrou diversos cocos em João Pessoa, Patos, Pombal, Sousa, Coremas, Itabaiana, Alagoa Nova, Areia e Baía da Traição. Dessa época até os dias atuais, poucos sobreviveram. Jornais no início do século XX noticiavam, -embora de forma preconceituosa -, a efervescência do coco de roda no cenário cultural paraibano. Intelectuais e folcloristas da época, como Mário de Andrade, Ademar Vidal e Câmara Cascudo, eram grandes admiradores, pesquisadores e defensores desta brincadeira na Paraíba (bem como em outros estados do nordeste). Nesse período já se relatava a dificuldade de sobrevivência dessas tradições. Desde então pouca coisa mudou.

As atuais políticas públicas de apoio à cultura popular paraibana se limitam a (i) insuficientes editais de apoio/fomento e (ii) contratação dos grupos para apresentações em eventos das prefeituras e governo estadual.

Atualmente, os mestres, mestras, grupos e comunidades ficam à margem da maioria dos editais, que por seu perfil meritocrata pouco contribuem de fato para a manutenção e desenvolvimento da cultura popular paraibana. Tais editais apresentam demandas burocráticas distantes da realidade das comunidades. Muitas pessoas que não foram alfabetizadas, que não contam com experiência ou suporte para organizar a documentação necessária, que possuem acesso restrito (ou inexistente) à internet e que estão distantes dos centros urbanos.

Quando os grupos são convidados para se apresentar pelas prefeituras ou pelo governo estadual, as mesmas dificuldades se repetem em relação à administração dos contratos. Além disso, as comunidades possuem  pouca autonomia na negociação dos valores do cachê, transporte, alimentação e  condições técnicas, o que reforça sua vulnerabilidade.

Esta condição contribui para a precariedade na confecção e manutenção de figurinos e instrumentos musicais dos grupos, itens fundamentais para a realização da brincadeira. Além disso, perpetua a condição marginalizada e subalterna das manifestações de origem popular, bem como o racismo estrutural da sociedade brasileira. Ou seja, o limitado incentivo do Poder Público afeta diretamente os grupos tradicionais que, sem boas condições de realizar apresentações e sem apoio de projetos, permanecem frágeis ou até mesmo se extinguem.

Frisamos que nosso objetivo não é a “adoção” dos grupos tradicionais por nenhuma instituição, nem provocar uma postura paternalista do Estado. Viemos nos manifestar para demonstrar nossa organização com o intuito coletivo de reinvidicar algo que historicamente nos foi negligenciado e que entendemos como sendo de nosso direito: o reconhecimento e a devida valorização da cultura popular paraibana.

O QUE QUEREMOS:

1. Criação do Dia Estadual do Coco de Roda, Ciranda e Mazurca da Paraíba e encaminhamento do processo para criação do dia municipal em João Pessoa (este com projeto em andamento).

2. Aumento no número de vagas disponibilizadas pela Lei Canhoto da Paraíba.

3. Criação de calendário estadual de apresentações, eventos e oficinas de coco de roda, ciranda e mazurca, para que os grupos, mestres e mestras possam desenvolver sua arte e dinfundir suas tradições. Tal calendário seria planejado com antecedência e divulgado de maneira ampla.

4. Inserção regular dos grupos tradicionais nos calendários festivos das prefeituras e governo do estado, com o pagamento de cachês justos e oferecimento de boas condições técnicas, de transporte e alimentação.

5. Esforço para criação de uma lei de incentivo à cultura popular que vá além de editais e contratos esporádicos: uma política pública que apoie mestres, mestras e comunidades de maneira contínua e estável.

6.Reconhecimento dos cocos, cirandas e mazurcas como patrimônios culturais imateriais do estado da Paraíba através de lei que discipline medidas voltadas para a salvaguarda dessas formas de expressão.

ASSINAM ESSA CARTA:

1 – Ciranda do Sol (Bairro dos Novaes – João Pessoa).

2 – Ciranda e Coco de Roda dos Tupinambás (Bairro de Mandacaru – João Pessoa).

3 – Vó Mera e Suas Netinhas (Bairro do Rangel – João Pessoa)

4 – Cirandeiros do Vale do Gramame (Engenho Velho – João Pessoa).

5 – Mestra Carminha (Praia da Penha – João Pessoa)

6 – Coco de Roda Novo Quilombo (Quilombos Ipiranga e Guruji – Conde).

7 – Coco de Roda e Ciranda do Mestre Zé Cutia (Jacumã – Conde).

8 – Ciranda da Alegria (Assentamento Dona Antônia – Conde)

9 – Coco de Roda de Forte Velho (Forte Velho – Santa Rita).

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10 – Coco de Roda Almirante Atalaia (Ribeira/Forte Velho – Santa Rita)

11 – Mestre Ciço (Várzea Nova – Santa Rita)

12 – Coco de Roda do Mestre Sebastião (Lucena)

13 – Coco de Roda de Cruz do Espírito Santo (Engenho da Cachaça São Paulo – Cruz do Espírito Santo)

14 – Coco de Roda da Aldeia Laranjeiras (Aldeia Laranjeiras – Baía da Traição).

15 – Coco de Roda da Aldeia Cumaru (Aldeia Cumaru – Baía da Traição)

16 – Coco de Roda da Barra de Camaratuba (Mataraca – Barra de Camaratuba).

17 – Odete de Pilar (Pilar).

18 – Samba de Coco do Mestre Zé Zuca (Sítio Sulapa – Queimadas).

19 – Desencosta da Parede (Quilombo Caiana dos Crioulos – Alagoa Grande)

20 – Coco de Roda e Ciranda da Mestra Edite (Quilombo Caiana dos Crioulos – Alagoa Grande)

21 – Ciranda do Grilo (Quilombo do Grilo – Riachão do Bacamarte)

22 – Coco de Roda do Congo (Congo)

23 – Mazurca de Santa Catarina (Monteiro)

24 – Coco de Roda do Quilombo Livramento (Quilombo Livramento – São José de Princesa)

25 – Grupo de estudos Coco de Roda Acauã.

APOIAM ESSA CARTA:

1.Prof. Dr. Chico Santana (Departamento de Música da UFPB).

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2.Profa. Dra. Nina Graeff (Departamento de Música da UFPB).

Não é de hoje que a cultura popular vem sofrendo com falta de reconhecimento, valorização e apoio para manter a tradição das brincadeiras, manifestações e festejos. Segundo Arthur Costa, integrante do Grupo de Estudos Coco de Roda Acauã, que também assina a carta, esse manifesto é um gito dos mestres que não se sentem representados e valorizados perante a sociedade e os espaços de cultura.

“Essa carta parte de uma revolta dos mestres e mestras da cultura tradicional do coco de roda da Paraíba. Queremos coisas efetivas para manutenção e preservação salvaguarda dessas brincadeiras que são o Coco de Roda, Ciranda e Mazurca da Paraíba que se entrelaçam pela semelhança na forma de brincar, ou pelo trânsito de uma brincadeira junto com outra. A revolta se chegou num nível por questão de falta de voz dos mestres e mestras. Eles não se sentem com voz ativa de tudo isso. Não conseguem ver espaço para eles. Por isso essa revolta coletiva.

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A carta está sendo compartilhada no instagram do Folguedos Paraíbanos, Coco de Roda Acauã.

Arte: Jaqueline Lima
Arte: Jaqueline Lima
Arte: Jaqueline Lima

Fonte: Coco de Roda Acauã

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